O mar revolto sob uma tempestade de neve, um barco a vapor cuja tripulação, casco e mastreação tentam resistir em meio a intempérie inclemente, expressas nas cores simultaneamente belas e angustiantes de Turner, que ilustram a capa deste livro, é uma excelente metáfora das linguagens, conceitos e narrativas da experiência dos modernos no alvorecer oitocentista. Por meio de uma análise original e criativa de uma parte pouco explorada da obra do inglês Robert Southey (1774-1843), André da Silva Ramos oferece-nos um detido panorama das aporias, dilemas e disputas intelectuais deste tempo irrequieto marcado por turbulências e definições tanto políticas quanto semânticas, fundamentais à ideia do que era e seria a história. Escrito com elegância e erudição notáveis, o autor nos apresenta um Southey, conhecido, sobretudo pelos especialistas em historiografia brasileira, por sua monumental History of Brazil, mais humano, um letrado que viaja, estuda, pensa e escreve mergulhado em suas pretensões intelectuais e sociais, sensível à melancolia e assombrado por um espectro cético. Finalmente, o livro de Ramos não é um produto isolado, é fruto do trabalho coletivo de um grupo de pesquisa sobre a história da historiografia que se consolidou nos últimos anos na UFOP sob a liderança de Valdei Araujo e outros colegas e que vem modificando a forma de se fazer e refletir a história no Brasil: a busca por uma desatualização do hoje, como uma alternativa às tiranias do presentismo contemporâneo. É como se Southey, sobrevivendo ao Snow Storm de Turner, emergisse do passado e chegasse a nós desafiando o tempo, só que não guiado pelos mortos, mas pelas mãos hábeis de Ramos: and I with them shall travel on through all futurity! Temístocles Cezar, Professor Titular do Departamento de História da UFRGS, Presidente da Sociedade Brasileira de Teoria e História da Historiografia.
 
Dimensões: 20x14 cm
Páginas: 284
Edição: 1ª
Primeiras Páginas: PDF
Disponível em: Kindle